12 de dezembro de 2013

Agrotóxico usado na cana mata dois milhões de abelhas, dizem apicultores



Produtores de mel culpam venenos por prejuízos em Gavião Peixoto,SP (Foto: Reginaldo dos Santos/EPTV)
Do G1 São Carlos e Araraquara
Os produtores de mel de Gavião Peixoto(SP) contabilizam os prejuízos depois que mais de dois milhões de abelhas morreram nas últimas semanas. Os apicultores acreditam que a mortandade tenha sido causada pela aplicação indiscriminada de agrotóxicos por parte dos produtores de cana-de-açúcar e de laranja. Segundo o Ibama, a pulverização aérea com algumas substâncias é proibida.
Mesmo assim, o problema não pôde ser evitado. Para o apicultor José Luiz Santos, o prejuízo estimado é de R$ 15 mil. “Eu tinha 30 colmeias. A expectativa era produzir mais uma tonelada de mel por ano, mas perdi tudo”, lamentou.
O caso foi denunciado para o Ministério da Agricultura e Meio Ambiente de Gavião Peixoto, que já coletou amostras para análise. Os apicultores suspeitam que as abelhas morreram por causa do uso de veneno na região. Principalmente quando é aplicado por aeronaves.
Todos os produtores rurais registraram boletim de ocorrência. “Estou aguardando o resultado da análise para ver se comprova se é o mesmo tipo de veneno. Tem que resolver, se não, não tem como trabalhar mais”, ressaltou o apicultor Valentim Donizete.
Recorrente
Além do prejuízo gerado este ano, os produtores também acumulam o prejuízo do ano passado, quando perderam dezenas de colmeias e mais de um milhão de abelhas morreram. Na época, um laudo constatou a presença de um inseticida usado para combater cupins em canaviais.
Toda a estrutura será jogada fora por causa de agrotóxico (Foto: Reginaldo dos Santos/EPTV)Toda a estrutura será jogada fora por causa de
agrotóxico (Foto: Reginaldo dos Santos/EPTV)
Este ano sobraram apenas algumas abelhas. Mas, toda a estrutura será jogada fora. “É preciso se desfazer, porque se colocar outro enxame no mesmo lugar, as abelhas vão morrer, pois o agrotóxico continua reagindo durante cinco anos”, justificou Donizete.
Sem controle
Segundo o pesquisador do instituto de biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro, Osmar Malaspina, o uso de agrotóxicos aplicados sem controle mata as colmeias. “Os agricultores têm aumentado as aplicações, como por exemplo, nos pomares de laranja, para controlar as pragas. No caso da cana-de-açúcar o aumento ocorre também porque as pragas não podem ser mais combatidas com a queima”, explicou.
A pulverização aérea também é um problema. “Conseguimos mostrar que a grande mortandade de abelhas estava relacionada à aplicação de agrotóxicos. Esse tipo de pulverização aérea foi suspensa por um tempo, mas este ano está sendo rediscutida se vai ser mantida ou se o Ibama vai liberar essa aplicação aérea”, disse Malaspina.
Fiscalização
O Ibama informou que proibiu a pulverização aérea com algumas substâncias. Já o escritório de Defesa Agropecuária afirmou que faz fiscalizações e que ainda não foi informado oficialmente sobre a mortandade das abelhas.
A federação que representa os agricultores não respondeu sobre o uso indevido de agrotóxicos. O laudo sobre a causa da morte deve sair na semana que vem.

Mel: o alimento aliado do intestino



Este adoçante natural também ajuda a aliviar dor de garganta e melhora a qualidade do sono

POR BRUNA STUPPIELLO



O mel é um produto natural obtido a partir do néctar das flores e de excreções da abelha. Além de ser um ótimo adoçante natural, este alimento é cheio de benefícios porque conta com ação antimicrobiana, capaz de impedir o crescimento ou destruir micro-organismos e assim proteger contra doenças. 
O mel também conta com ação antioxidante e prebiótica, esta última modifica o balanço da microbiana intestinal, estimulando o crescimento e/ou atividade de micro-organismos benéficos. Por ser rico em carboidratos e açúcar o mel é ótima fonte de energia. 
O mel também conta com ação antioxidante e prebiótica, esta última modifica o balanço da microbiana intestinal, estimulando o crescimento e/ou atividade de micro-organismos benéficos. Por ser rico em carboidratos e açúcar o mel é ótima fonte de energia. 
O alimento também conta com potássio, magnésio, sódio, cálcio, fósforo, ferro, manganês, cobalto, cobre e alguns outros minerais. Entre estes nutrientes, o potássio é o que está mais presente no mel e é interessante para o equilíbrio da pressão arterial. 
Os tipos de mel 
O sabor, aroma e cor do mel irão variar de acordo com as floradas, definidas a partir do tipo de flor que a abelha coleta o néctar para produzir este doce. Alguns benefícios do mel podem ser mais fortes em determinados tipos do que em outros. Confira os principais tipos de mel consumidos no Brasil: 
Mel silvestre: Este é o mais ingerido no Brasil e é proveniente de diversas flores. É considerado interessante para a pele, vias respiratórias, tem efeito antioxidante e propriedades calmantes. 
Mel de flor de eucalipto: Possui um sabor mais forte e coloração escura. É interessante para o tratamento auxiliar e alivio de infecções intestinais, vias urinárias e doenças respiratórias. 
Mel de assa-peixe: Possui aroma e sabor agradáveis e possui efeito calmante e expectorante.        
Mel de flor de laranjeira: Conta com sabor suave e regula a função intestinal e tem efeito calmante.    
Mel de cipó-uva: possui ação antioxidante, especialmente no fígado, por isso pode ajudar a diminuir os efeitos do álcool. 

Principais nutrientes do mel

O mel conta com boas quantidades de açúcar e carboidratos e por isso ele é uma ótima fonte rápida de energia. Ele também possui alguns ácidos orgânicos, sendo que um deles, o ácido glucônico, contribui para a formação do peróxido de hidrogênio, um poderoso antibactericida. O ferro e o cobre presentes no mel contribuem para a ação antimicrobiana. 
O ácido glucônico também tem forte ação antioxidante. O mel ainda conta com grande número de compostos que proporcionam este mesmo benefício. Os ácidos fenólicos, os flavonoides, certas enzimas, como a glicose oxidase, catalase e peroxidase, ácido ascórbico, hidroximetilfurfuraldeído e carotenoides. Todas as substâncias contribuem para combater os danos causados por agentes oxidantes, presentes nos alimentos e no corpo humano, e assim prevenir o envelhecimento e doenças como o Alzheimer, cardiovasculares, entre outras.  
O mel conta com carboidratos não digeríveis e oligossacarídeos que são prebióticos. Isto significa que eles contribuem para a manutenção da microbiota intestinal e assim estimulam o trânsito intestinal, cooperam com a consistência normal das fezes, previnem diarreia e constipação. 
Este adoçante natural possui potássio, interessante para o equilíbrio da pressão arterial, cálcio, importante para a saúde dos ossos, ferro, necessário para a prevenção da anemia, e outros minerais. 
NutrientesMel - 25 gramas
Calorias77.25 kcal
Carboidratos21 g
Cálcio2.5 mg
Magnésio1.5 mg
Ferro0.075 mg
Potássio24.75 mg
Fósforo1 mg
Fonte: Tabela Brasileira de Composição dos Alimentos / Taco - versão 2, UNICAMP     
Confira qual a porcentagem do Valor Diário* de alguns nutrientes que a porção recomendada, 25 gramas (uma colher de sopa), de mel carrega: 
  • 7% de carboidratos
  • 0,5% de ferro
  • 0,25% de cálcio.

Benefícios do mel

Bom para dor de garganta: Sua avó estava certa! Como o mel possui ação antimicrobiana, capaz de impedir o crescimento ou destruir micro-organismos, ele é interessante para aliviar a dor de garganta momentaneamente. Mas é importante ressaltar que não há nenhum estudo científico comprovando que o mel trate as causas desse sintoma, como uma faringite por exemplo, e nem a evolução da doença relacionada a uma dor de garganta. 
As característica do mel que fazem com que ele tenha esta ação antibiótica são: o baixo ph, proporcionando um ambiente ácido que pode inibir o desenvolvimento de muito micro-organismos, pouca quantidade de água, que não proporciona condições favoráveis para o crescimento das bactérias. Além disso, o mel possui o ácido glucônico que contribui para a formação do peróxido de hidrogênio, um poderoso antibactericida. 
Bom para problemas respiratórios: Pesquisas mostraram que bactérias causadoras de algumas doenças são sensíveis a ação antibacteriana do mel. Entre esses micro-organismos estão a Haemophilus influenzae, responsável por infecções respiratória e sinusites,Mycobacterium tuberculosis, que leva a tuberculose, Klebsiella pneumoniae e Streptococcus pneumoniae, que causa a pneumonia. Nesse caso, vale a mesma ressalva em relação à dor de garganta. O mel pode ajudar aliviando os sintomas e o desconforto, mas não promove a cura da doença em si. O tratamento dessas doenças, portanto, deve ser indicado por um especialista. 
Bom para o intestino: O mel pode ser um importante aliado na manutenção da microbiota intestinal (conhecida como flora intestinal), que são bactérias benéficas que carregamos ali. Contribuindo assim para um melhor trânsito intestinal, a consistência normal das fezes, prevenção de diarreia e constipação. 
Com a microbiota boa, quando a pessoa consumir fibras as bactérias do bem transformam as fibras em ácidos graxos de cadeia curta, que impedem que os micro-organismos ruins do intestino invadam a corrente sanguínea e se espalhem pelo nosso corpo, criando uma defesa indireta. 
Todos estes benefícios ocorrem porque o mel possui carboidratos não digeríveis e oligossacarídeos que são prebióticos, ou seja, contribuem para a manutenção da microbiota intestinal. Além disso, pesquisas mostraram que bactérias causadoras de algumas doenças são sensíveis a ação antibacteriana do mel. Entre esses microrganismos estão: Escherichia coli, causadora de diarreia e infecções urinárias e Salmonella species, que pode levar a diarreia. 
Bom para pele: O mel é rico em antioxidantes, como ácidos fenólicos, os flavonoides e os carotenoides. Por isso, o alimento contribui para a diminuição dos radicais livres e assim previne o envelhecimento precoce e contribui para a pele mais bonita e saudável. O mel pode ser ingerido ou utilizado em cosméticos como sabonetes e cremes. 
Ao ser passado na pele algumas pesquisas, entre elas uma da Universidade de Ouagadougou de Burkina Faso, observaram que o mel pode agir como cicatrizante de feridas e em casos de úlceras, queimaduras e abscessos na pele. Os micro-organismo staphylococcus aureus esalmonela typhimurium, ambos causadores de infecções em ferimentos, são sensíveis a ação antibacteriana do mel. 
Ação antioxidante: Isto faz com que o mel ajude a diminuir os radicais livres e assim contribua para evitar o envelhecimento celular, proporcionando uma pele mais bonita e saudável e prevenindo doenças como o Alzheimer, cardiovasculares, entres outras. 
As substâncias presentes no alimento que proporcionam este benefício são: ácido glucônico, os ácidos fenólicos, os flavonoides, certas enzimas, como a glicose oxidase, catalase e peroxidase, ácido ascórbico, hidroximetilfurfuraldeído e carotenoides. 
Diminui os riscos de infecção urinária: Alguns estudos apontaram que bactérias causadoras de certas doenças são sensíveis a ação antibacteriana do mel. Entre esses microrganismos estão a streptococcus faecalis, proteus species e pseudomonas aeruginosa, todas elas podem causar a infecção urinária. 
Melhora o sono e ajuda a relaxar: O mel estimula a produção de serotonina, neurotransmissor responsável pela sensação de prazer e bem-estar. O alimento é um carboidrato fonte de triptofano, um aminoácido precursor da serotonina, que é o hormônio responsável por baixar os níveis de estresse do organismo, melhorando o bem-estar. O mel tem uma função importante como regenerador da microbiota intestinal, quando combinado aos lactobacilos presentes no intestino. Sabe-se que mais de 90% da serotonina é produzida no intestino, portanto o mel ajuda a manter a integridade intestinal colaborando com uma melhor regulação neuro-endócrina, com mais serotonina e mais disposição e sensação de prazer.  

Quantidade recomendada de mel

O quanto consumir de mel por dia pode variar entre uma colher de chá, cerca de 10 gramas, a uma colher de sopa, aproximadamente 25 gramas. É importante ressaltar que este alimento deve ser inserido em uma dieta saudável. 

Como consumir o mel

O mel pode ser utilizado como uma substituição saudável ao açúcar refinado na preparação de bolos, tortas, biscoitos, entre outros doces. Também é interessante consumi-lo com torradas, frutas, iogurtes, sucos e até mesmo na receita de carnes. 
Evite o aquecimento em excesso do mel, pois isto pode reduzir a acidez e a umidade do alimento e causar a perda de algumas enzimas, fazendo com que o alimento deixe de ter parte de suas propriedades benéficas. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária orienta aquecer o alimento até no máximo 70 graus. 
Mel cristalizado: Por ser uma solução rica em açúcar, quando armazenado em temperaturas abaixo da média da colmeia, que é entre 34 e 35 graus, o mel pode cristalizar. Para que ele volte ao estado líquido sem perder as propriedades nutricionais a orientação é colocar a quantidade a ser utilizada de mel em um pote em banho-maria a 45 graus durante cinco minutos. Deixe a água esfriar com o pote dentro. 
Cuidados com a origem do mel: É importante ficar atento para a procedência do mel. Opte sempre pelo produto que tem as informações do fabricante e o selo do Serviço de Inspeção Federal (S.I.F). O S.I.F pertence ao Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal que tem por objetivo normatizar e autorizar a produção e comercialização de todos os alimentos de origem animal no Brasil.  

Comparando o mel com outros alimentos

NutrientesMel - 25 gramasMelado - 25 gramasAçúcar refinado - 50 gramasAçúcar mascavo - 50 gramas
Calorias77.25 kcal74 kcal193.5 kcal184.5 kcal
Carboidratos21 g19.15 g49.75 g47.25 g
Cálcio2.5 mg25.5 mg2 mg63.5 mg
Magnésio1.5 mg28.75 mg0.5 mg40 mg
Ferro0.075 mg1.35 mg0.05 mg4.15 mg
Potássio24.75 mg98.75 mg3 mg261 mg
Fósforo1 mg18.5 mg0 mg19 mg
Fonte: Tabela Brasileira de Composição dos Alimentos / Taco - versão 2, UNICAMP.
*Comparação baseada nas quantidades diárias recomendadas de cada alimento. Valores Diários de referência para adultos com base em uma dieta de 2.000 kcal ou 8.400 kj. Seu valores diários podem ser maiores ou menores dependendo de suas necessidades energéticas.         
O mel é muito mais saudável para a alimentação do que o açúcar refinado. Enquanto o primeiro possui uma série de substâncias que proporcionam benefícios para o organismo, o segundo é somente fonte de calorias, sem outros nutrientes interessante. 
Já o açúcar mascavo não passa pelo processo de refinamento e por isso preserva nutrientes em sua composição. Ele conta com boas quantidades de ferro, importante para evitar a anemia, e potássio, nutriente que participa do processo de equilíbrio da pressão arterial. Além disso, o alimento possui magnésio, fósforo e cálcio. Porém, o alimento não possui as propriedades antioxidantes, antibacterianas e prebióticas do mel. 
O melado, que assim como o açúcar refinado e mascavo é derivado da cana de açúcar, é uma outra opção para adoçar, pois não passa pelo refinamento. Assim, ele possui boas quantidades de nutrientes semelhantes aos do mascavo, como o ferro e o potássio. Alguns estudos apontam que o melado é interessante para a prisão de ventre. Contudo, ele também não possui as propriedades antioxidantes, antibacterianas e prebióticas do mel. 

Combinando o mel

Mel + cereais: O mel possui ação prebiótica que melhora a microbiota intestinal e os cereais, como aveia, são ricos em fibras. Com a microbiota boa, quando a pessoa consumir fibras as bactérias do bem transformam as fibras em ácidos graxos de cadeia curta, que impedem que os micro-organismos ruins do intestino invadam a corrente sanguínea e se espalhem pelo nosso corpo, criando uma defesa indireta. 
Mel com leite é uma ótima combinação para o sono
Mel + leite: A combinação pode ser ótima para melhorar a qualidade do sono, principalmente para quem tem mais dificuldade de desligar o cérebro antes de dormir. A temperatura morna do leite é reconfortante, ajudando o corpo a relaxar. Além disso, o alimento é fonte de triptofano, aminoácido que melhora o bem-estar e prepara para o sono. Já o mel, além de também ser fonte de triptofano, é uma fonte de carboidrato simples, que também ajuda no sono, pois facilita a absorção do triptofano. 

Contraindicações

O mel não deve ser consumido por crianças menores de um ano. Isto porque o alimento pode ter clostridium botulunum, bactéria causadora do botulismo. A doença pode causar problemas de saúde sérios como visão dupla e embaçada, fotofobia, tonturas, boca seca, constipação, comprometimento do sistema nervoso (dificuldades para engolir, falar, se mover) e comprometimento dos músculos respiratórios. Esta quantidade de bactéria presente no mel pode ser prejudicial para crianças com menos de um ano porque elas não possuem a microbiota completamente formada. Para os adultos saudáveis esta quantidade de clostridium botulunum não é prejudicial. 
Além disso, o mel não é recomendado para pessoas que possuem diabetes. Isto porque este alimento rico em açúcar pode levar a picos de glicemia no organismo. Grávidas também devem ficar atentas ao mel e procurar incluí-lo em uma dieta saudável, a fim de evitar o risco de diabetes gestacional. 

Riscos do consumo excessivo

Como o mel é muito calórico e rico em açúcar o consumo em excesso pode causar o ganho de peso. Além disso, grandes quantidades de mel, assim como o açúcar, podem elevar os níveis de glicose no sangue rapidamente, fazendo com que os níveis de insulina aumentem e consequentemente a longo prazo isso pode levar a resistência à insulina que favorece o diabetes tipo 2. 

Neonicotinoides: que são e como podem afetar você


Aprovados apressadamente, novos agrotóxicos são devastadores para abelhas — mas podem contaminar milhares de outras espécies e água que bebemos 
Por George Monbiot | Tradução: Inês Castilho
Só agora, quando os neonicotinoides já são os inseticidas mais usados no mundo, é que estamos começando a compreender a extensão dos impactos ambientais que causam. Assim como a fabricante do DDT, as corporações que produzem essas toxinas alegaram que eram inofensivas para outras espécies, além das pragas que eram seu alvo. Como no caso do DDT, ameaçaram pessoas que se mostraram preocupadas, publicaram argumentos enganosos e fizeram de tudo para ludibriar o público. E, como para garantir que a história segue o velho roteiro, governos colaboraram com esse esforço. Entre os mais (ir)responsáveis está o do Reino Unido.
Como mostra o professor Dave Goulson neste artigo sobre os impactos desses pesticidas, ainda não sabemos quase nada sobre como eles afetam a maioria das formas de vida. Mas, à medida em que as evidências se acumulam, os cientistas começaram a descobrir que eles provocam impactos numa enorme diversidade de vida selvagem.
Quem ler o artigo tomará contato com provas que apontam os neonicotinoides como uma das principais causas do declínio das populações de abelhas e outros polinizadores. Aplicados nas sementes de várias culturas, esses pesticidas permanecem nas plantas conforme elas crescem, e matam os insetos que as comem. A quantidades necessária para destruir os insetos é incrivelmente pequena: os neonicotinoides são 10 mil vezes mais potentes que o DDT. Basta que as abelhas sejam expostas a 5 nanogramas para que a metade delas venha a morrer. Assim como as abelhas, borboletas, mariposas, besouros e outros polinizadores que se alimentam das flores de espécies domesticadas pelo ser humano podem, ao que parece, absorver veneno em quantidade suficiente para comprometer sua sobrevivência.
Mas somente uma pequena parte do volume de neonicotinoides utilizados pelos agricultores é absorvida pelo pólen ou néctar da flor. Estudos realizados até agora sugerem que apenas de 1,6% a 20% do pesticida usado nas sementes de fibras têxteis são de fato absorvidos pelas plantas — muito menos do que quando as toxinas são pulverizadas sobre as folhas. Parte dos resíduos é levada pelo vento e provavelmente causará estragos nas populações de muitas espécies de insetos, nas sebes e habitats das proximidades. Mas a grande maioria, diz Goulson – “normalmente, mais de 90%” – do veneno aplicado às sementes penetra no solo. Em outras palavras, a realidade é bem diferente da visão criada pelos fabricantes, que continuam descrevendo a cobertura de sementes com pesticidas como ”intencional” e “precisa”.

Os neonicotinoides são químicos altamente persistentes, que se mantêm (segundo os poucos estudos publicados até aqui) no solo por mais de 19 anos. Como são persistentes, tendem a se acumular: a cada ano de aplicação o solo se torna mais tóxico.
Ninguém sabe o que esses pesticidas provocam no solo, já que ainda não foram feitas pesquisas suficientes. Mas – mortais para todos os insetos e possivelmente para outras espécies em concentrações mínimas – é provável que acabem com grande parte da fauna do solo. Isso inclui as minhocas? Os pássaros e mamíferos que comem minhocas? Aves e mamíferos que se alimentam de insetos e sementes pulverizadas? Ainda não sabemos dizer.
Isso é o que você continuará ouvindo sobre esses pesticidas: passamos a utilizá-los cegamente. Nossos governos aprovaram seu uso sem a mais pálida ideia das prováveis consequências.
Você pode ter tido a impressão de que os neonicotinoides foram banidos da União Europeia. Mas não foram. O uso de alguns poucos desses pesticidas foi suspenso por dois anos, mas apenas para determinados propósitos. Ao ouvir os legisladores, seria talvez levado a acreditar que abelhas melíferas são os únicos seres que eventualmente são afetados, e que somente flores de plantas cujas sementes foram pulverizadas podem matá-los.
Mas os neonicotinoides são também borrifados sobre folhas de ampla variedade de culturas. Estão ainda espalhados em pastagens e parques, em pequenos grãos, para matar insetos que vivem no solo e comem raízes da grama. Essas aplicações, e muitas outras, permanecem legalizadas na União Europeia – embora não saibamos a gravidade e extensão de seus impactos. Sabemos o suficiente, contudo, para concluir que são provavelmente nefastos.
Claro, nem todos os neonicotinoides que penetram no solo alojam-se ali indefinidamente. Você ficará aliviado ao saber que alguns deles são lavados, quando, então… ah sim, acabam em águas subterrâneas ou rios. O que acontece ali? Alguém sabe? Os neonicotinoides não são sequer mencionados entre as substâncias monitoradas pelos órgãos que cuidam da água, de modo que não temos ideia sobre quais concentrações se encontram nos líquidos que nós e muitas outras espécies usamos.
Mas estudo realizado na Holanda revela que a água de algumas áreas de horticultura é tão fortemente contaminada por esses pesticidas que poderia ser usada para tratar piolhos. O mesmo estudo mostra que, mesmo em concentrações muito baixas – não superiores aos limites definidos pela União Europeia – os neonicotinoides que penetram nos sistemas fluviais acabam com metade das espécies de invertebrados que esperaríamos encontrar nos rios. Essa é outra maneira de dizer que destroem grande parte da cadeia alimentar.
Fui motivado a escrever este artigo por uma horrível notícia sobre o Rio Kennet, no sul da Inglaterra: um ecossistema altamente protegido. No mês passado, alguém – um fazendeiro, dono de casa, ainda não se sabe – jogou outro tipo de pesticida, o clorpirifós, na pia. A quantidade era equivalente – em substância pura – a duas colheres de chá. O veneno passou pelas obras de esgoto da região de Marlborough e exterminou a maior parte dos invertebrados existentes numa extensão de 24 quilômetros do rio.
A notícia me atingiu em cheio. O melhor trabalho que já tive foi, durante as férias de verão da universidade, como zelador da água no trecho do rio Kennet pertencente ao espólio Sutton (Sutton estate). Foi um trabalho difícil e, na maioria das vezes, só fiz bobagem. Mas vim a conhecer e amar esse trecho do rio, e me maravilhei com a profusão impressionante de vida contida naquelas águas claras. Mergulhado nela até a altura do peito durante a maior parte do dia, fiquei imerso na ecologia, e passei muito mais tempo do que devia observando pequenos castores e maçaricos; cabozes gigantes abanando as suas barbatanas à sombra das árvores; grandes trutas tão leais a seus postos que branqueavam o cascalho do leito do rio sob suas caudas; lagostins nativos; libélulas; larvas de moscas d’água; camarões de água doce e muitas outras espécies.
À noite, em busca de companhia e igualmente fascinado pelos protestos e pelas pessoas notáveis ​​que ele atraiu, eu acabava no campo de paz, na frente dos portões da base nuclear de Greenham Common. Contei sobre a estranha história que rolou nessas minhas visitas em outro post.
Ativistas que procuram proteger o rio já descreveram como, após a contaminação, ele cheirava mal por causa dos cadáveres de insetos e camarões em decomposição. Sem insetos e camarões para se alimentar, os peixes, aves e anfíbios que utilizam o rio tendem a desaparecer e morrer.
Depois de digerir esta notícia, lembrei-me do estudo holandês, e me pareceu que os pesticidas neonicotinoides provavelmente estão, em muitos lugares, minando a vida dos rios onde entram de forma semelhante: não uma vez, mas durante todo o tempo em que estão entranhados no terreno à sua volta.
Richard Benyon, ministro do Meio Ambiente do Reino Unido, supostamente encarregado de proteger a vida selvagem e a biodiversidade – e que coincidentemente possui direito de pesca em parte do Rio Kennet e representa o eleitorado da região por onde ele passa –,expressou sua “raiva” pelo envenenamento por clorpirifós. Não deveria ele também se indignar contra o envenenamento rotineiro dos rios por neonicotinoides?
Se fizesse isso, ficaria em maus lençois com seu chefe. Assim como envenenam sistematicamente nossos ecossistemas, os neonicotinoides também envenenaram as políticas (já reconhecidamente bem tóxicas) do departamento que deveria regulá-los. Em abril, Damian Carrington expôs, escrevendo no Observer, a carta enviada pelo ministro encarregado do Departamento de Meio Ambiente, Alimento e Negócios Rurais, Owen Paterson, à Syngenta, fabricante desses pesticidas. Paterson prometia à multinacional que seus esforços para evitar a proibição de seus produtos “continuarão e se intensificarão nos próximos dias”.
E de fato, o Reino Unido recusou-se a apoiar as proibições temporárias propostas pela Comissão Europeia tanto em abril como em julho, a despeito do número enorme de petições e dos 80 mil emêios sobre o assunto que Paterson recebeu. Quando ele e o departamento que dirige viram-se frente à escolha entre a sobrevivência da natureza e os lucros das multinacionais dos pesticidas, não houve muita dúvida sobre onde pular. Felizmente, eles fracassaram. (…)
No início de agosto, como para nos recordar do quanto este governo está capturado pelas corporações que deveria regular, o cientista que liderou as inúteis experiências que Walport e Paterson citaram como desculpa, deixou o governo para assumir um novo posto na… Syngenta. Parece que ela já estava trabalhando para eles, na verdade.

Portanto, temos aqui um departamento que cambaleia como um bêbado portando uma metralhadora carregada, assegurando-nos de que é perfeitamente seguro. As pessoas que deveriam estar defendendo a natureza têm conspirado com os fabricantes de biocidas de largo espectro para permitir níveis de destruição que só podemos imaginar. Ao fazê-lo, eles parecem estar arquitetando uma outra primavera silenciosa.